sexta-feira, agosto 01, 2008
Prelúdio de uma morte
Ela conseguiu. Neste corpo de mulher onde a alma é o cenário da vida, nos confins das leis dos homens, Ela consumiu sua essência perfumada de mortal. Proferiu pródigas palavras as quais adormecem nos contratos obscuros que, naturalmente, este corpo de mulher foi espontâneamente subjulgado a assinar. Enfim, depois de todo esse tempo - esse meteoro tempo em cabides de umbrais e regiões inóspitas da imaginação e mente-ato onde os espetáculos de cores e calores, sensações e orações - o enorme e colossal e devastador meteoro então colide com toda a verdade e todo espinhoso mistério de seu Ser, e o corpo de mulher sucumbe à pressão da colisão e todo o vazio árduo do vácuo se resume no último segundo ao eterno e infinito pesar do nada sobre seus pulmões. O peso do nada sobre teu umbigo. O corpo equilibra-se sobre a tênue linha da silhueta da luz, e o escuro amplo da imensidão da simplicidade de morrer alvorece em sua pele. O turbilhão então colide, concluí e segue em frente. Seu sofrimento acabou junto a teus membros, teus olhos, tua lingua, teu profundo compadecimento, aceitação e auto-crítica. Foram levados para a incompletude do vago soar da aurora dos mortos. Para o esquecimento provocado por sua própria engenharia. Uns dizem morte, talvez eu diga que é como o mais amargo e elegante acaso de uma harmonia.
domingo, julho 06, 2008
A Pressa e o Tempo
Venho lhes dizer através deste sussurro contemplativo
Que encontrei um prêmio valioso
Para recarregar com ira e gozo
O tormento verde folha, habitante da arvore principal,
Que flui no mesmo casco, mesmo cesto
Ao qual me proponho aqui elogiar
Nestes versos acesos no perene insignificado das coisas.
Surpreendente tíbia de minha velocidade.
Explícitos e temperamentais cargueiros
Despedem-se desgastados por minha humanidade
Que insiste em aflorar do avesso,
Presente diante da porta contrária da vida.
Ela sucumbe aos meus desejos
De (que delícia!) provar, levitar,
Na emoção e extravagância,
A permanente exuberância de constantemente
Testar-me.
Fuzilar-me.
Numa parede de terra insípida, sim.
Frente aos quadros e ramos
Da árvore principal.
Feminina.
Beijei-a.
Eu a observava.
Descrevia o tom que sua nuca transpirava
Trovões e teias. As ondulações negras e
Bem reverenciadas pela fragrância de sua noite
Contemplavam a singela musicalidade de seus olhos.
Concordo que música, naquele instante,
Soprava uma brisa quente que em meu rosto,
De repente, soletrava liras de percepção
Onde brotaram,
Fantasticamente,
Como água nascente,
Camaleões de adeus.
Que encontrei um prêmio valioso
Para recarregar com ira e gozo
O tormento verde folha, habitante da arvore principal,
Que flui no mesmo casco, mesmo cesto
Ao qual me proponho aqui elogiar
Nestes versos acesos no perene insignificado das coisas.
Surpreendente tíbia de minha velocidade.
Explícitos e temperamentais cargueiros
Despedem-se desgastados por minha humanidade
Que insiste em aflorar do avesso,
Presente diante da porta contrária da vida.
Ela sucumbe aos meus desejos
De (que delícia!) provar, levitar,
Na emoção e extravagância,
A permanente exuberância de constantemente
Testar-me.
Fuzilar-me.
Numa parede de terra insípida, sim.
Frente aos quadros e ramos
Da árvore principal.
Feminina.
Beijei-a.
Eu a observava.
Descrevia o tom que sua nuca transpirava
Trovões e teias. As ondulações negras e
Bem reverenciadas pela fragrância de sua noite
Contemplavam a singela musicalidade de seus olhos.
Concordo que música, naquele instante,
Soprava uma brisa quente que em meu rosto,
De repente, soletrava liras de percepção
Onde brotaram,
Fantasticamente,
Como água nascente,
Camaleões de adeus.
sábado, junho 28, 2008
Perigo
No auge do emprego de cordeis encouraçados
Nobres almas pedem arrego à coroneis alados.
Houve ventos de solários e de saunas pesticidas
Quando rindo lá no alto dos trovões, disse a Midas
Pequeno ser, és tu coagulos em tua própria razão.
Ouso nesta vida apenas deter-me em mãos, minhas.
Ele então caiu num poro de júbilo, cresceu seu crânio,
Murmurou seu arranho de tijolos isolados em caldeirões,
Riu do escárnio mal engolido, nas bocas burguesas
Das cédulas de vontade na qual giramos nossas mesas.
Vermes e moinhos puderam apreciar por audição
A voz de ferro disparando berro como um canhão
Maldição! Maldição! Na certa me julgarão tresloucado
Mas essas palavras têm intenção. Por certo que muita vez
Não as desejo em meu terno, tampouco em teu coração.
És o anjo mandado do inferno, para opor-me a consolação.´
Por vezes sinto falta do que receio nunca mais retornar ser
Uma pinça de aurora em flamas que chora a ácida solidão de ser.
Até mesmo a luz dos astros incandescentes da amplidão
Estremeceram ao presenciar o ruido da voz de João,
Que algozes musicais perplexados estabeleciam-se
Sobre os tronos de ouro sagrado de Melquíades.
Hoje inverto as linguas, subjulgo os idiomas, verto ínguas
Em espaçadas matronas. Colho água sobre a espada.
Tranco muros em calabouços obscuros, donos de imensas caudas.
De que adianta o proferir. De que adianta o esquecimento.
De que adianta não ir e continuar sedento.
De que adianta não ir e continuar sedento.
De que adianta não ir e continuar sedento.
De não continuar sedento,
adianta ir e
não ir sedento
De continuar
e
não
adianta ir e
continuar sedento.
Nobres almas pedem arrego à coroneis alados.
Houve ventos de solários e de saunas pesticidas
Quando rindo lá no alto dos trovões, disse a Midas
Pequeno ser, és tu coagulos em tua própria razão.
Ouso nesta vida apenas deter-me em mãos, minhas.
Ele então caiu num poro de júbilo, cresceu seu crânio,
Murmurou seu arranho de tijolos isolados em caldeirões,
Riu do escárnio mal engolido, nas bocas burguesas
Das cédulas de vontade na qual giramos nossas mesas.
Vermes e moinhos puderam apreciar por audição
A voz de ferro disparando berro como um canhão
Maldição! Maldição! Na certa me julgarão tresloucado
Mas essas palavras têm intenção. Por certo que muita vez
Não as desejo em meu terno, tampouco em teu coração.
És o anjo mandado do inferno, para opor-me a consolação.´
Por vezes sinto falta do que receio nunca mais retornar ser
Uma pinça de aurora em flamas que chora a ácida solidão de ser.
Até mesmo a luz dos astros incandescentes da amplidão
Estremeceram ao presenciar o ruido da voz de João,
Que algozes musicais perplexados estabeleciam-se
Sobre os tronos de ouro sagrado de Melquíades.
Hoje inverto as linguas, subjulgo os idiomas, verto ínguas
Em espaçadas matronas. Colho água sobre a espada.
Tranco muros em calabouços obscuros, donos de imensas caudas.
De que adianta o proferir. De que adianta o esquecimento.
De que adianta não ir e continuar sedento.
De que adianta não ir e continuar sedento.
De que adianta não ir e continuar sedento.
De não continuar sedento,
adianta ir e
não ir sedento
De continuar
e
não
adianta ir e
continuar sedento.
segunda-feira, junho 23, 2008
Um momento sob o céu estrelado
"Olha os olhos de cristal!"
Aqueles olhinhos diziam:
"São olhos de cristal. Lindos!"
"Olhos de água", eu expliquei.
Era tão pequeno e estava fascinado, criança que era.
"Pegue para mim um deles", pediu.
Não quis negar.
Estendi o braço para a imensidão
E com a ponta de meus dedos
Apanhei um deles, cintilava.
Nossos pés estavam mornos próximos às chamas.
"Tente você também"
"Está bem"
Seus pequeninos dedos então apertavam
O cristal cintilante de água luminescente.
"Repare"
O rompimento do cristal fez escorrer
Sua água pura
Bem no meio de sua testa,
Nariz abaixo.
Então ele adormeceu.
Eu protegia-o.
João Miguel
Junho/08
Aqueles olhinhos diziam:
"São olhos de cristal. Lindos!"
"Olhos de água", eu expliquei.
Era tão pequeno e estava fascinado, criança que era.
"Pegue para mim um deles", pediu.
Não quis negar.
Estendi o braço para a imensidão
E com a ponta de meus dedos
Apanhei um deles, cintilava.
Nossos pés estavam mornos próximos às chamas.
"Tente você também"
"Está bem"
Seus pequeninos dedos então apertavam
O cristal cintilante de água luminescente.
"Repare"
O rompimento do cristal fez escorrer
Sua água pura
Bem no meio de sua testa,
Nariz abaixo.
Então ele adormeceu.
Eu protegia-o.
João Miguel
Junho/08
Ainda bem que não sou um espelho
Afinal, não há final.
Dizem que sou um quadro virado contra a parede,
Antes fosse eu um espelho.
Meus rins sem cor sobem talvez
Até a nuca de Rimbaud,
Ou algum outro devaneio qualquer
Diriam que é Flaubert.
Outros (que horror!), diriam Rosseau.
Para eles sou um quadro virado contra a parede,
Mas isso não importa a eles, são gente.
Eu aqui tenho o parque de diversões do espírito,
A esbórnia da alma em profanação de sentidos,
Que berra em todos os canais auditivos,
Afinal, não há final.
Dizem que sou um quadro virado contra a parede,
Antes fosse eu um espelho.
Meus rins sem cor sobem talvez
Até a nuca de Rimbaud,
Ou algum outro devaneio qualquer
Diriam que é Flaubert.
Outros (que horror!), diriam Rosseau.
Para eles sou um quadro virado contra a parede,
Mas isso não importa a eles, são gente.
Eu aqui tenho o parque de diversões do espírito,
A esbórnia da alma em profanação de sentidos,
Que berra em todos os canais auditivos,
Afinal, não há final.
Agrura
O amargo
Amargo.
Amargo.
O aspargo amargo.
O amargo do universo.
O aspargo do universo.
Universo amargo.
Largo amargo:
Largo universo.
Aspargo.
"O amargo largo do universo,
largo aspargo".
Aspargo amargo.
Largo aspargo do universo.
João Miguel
Junho/08
Amargo.
Amargo.
O aspargo amargo.
O amargo do universo.
O aspargo do universo.
Universo amargo.
Largo amargo:
Largo universo.
Aspargo.
"O amargo largo do universo,
largo aspargo".
Aspargo amargo.
Largo aspargo do universo.
João Miguel
Junho/08
Um dia acordei do avesso
Um belo dia acordei do avesso.
Meus olhos possuiam um brilho claro
E quando despertei, todos eles mergulharam num profundo breu.
Os sons da janela semi-aberta, a cortina aquecida pelo sol negro
E a eterna penumbra do meu quarto
Açoitaram meu coração e sentidos.
Ao cair de cara no chão cai de costas em flajelos de ferrões.
Mas o que é a dor quando não se enxerga a chaga?
De fato não me incomodavam os lampejos prateados
De meus sonhos falecidos.
Naquela escuridão, os clarões atingiam meu rosto como uma chuva de nuvens.
Quantas vezes, quantas frases longas que loucura nem delírio alcançam.
Podemos nós, quando tudo e nada fundem-se num profundo galho de brisa,
Podemos acordar como se tivessemos enfiado a cabeça no antônimo lado das coisas?
Frases longas.
Melhor encarar os fatos.
Um banho frio me faria bem.
João Miguel
Junho/08
Meus olhos possuiam um brilho claro
E quando despertei, todos eles mergulharam num profundo breu.
Os sons da janela semi-aberta, a cortina aquecida pelo sol negro
E a eterna penumbra do meu quarto
Açoitaram meu coração e sentidos.
Ao cair de cara no chão cai de costas em flajelos de ferrões.
Mas o que é a dor quando não se enxerga a chaga?
De fato não me incomodavam os lampejos prateados
De meus sonhos falecidos.
Naquela escuridão, os clarões atingiam meu rosto como uma chuva de nuvens.
Quantas vezes, quantas frases longas que loucura nem delírio alcançam.
Podemos nós, quando tudo e nada fundem-se num profundo galho de brisa,
Podemos acordar como se tivessemos enfiado a cabeça no antônimo lado das coisas?
Frases longas.
Melhor encarar os fatos.
Um banho frio me faria bem.
João Miguel
Junho/08
Navegação
Sinto o barco
Brisa a água gira
Espalham-se no chão do quarto
Ouço o ar que o som me trás, que cedo avisa:
Já morreu a melancolia.
"Já foi tarde"
O ar reclama.
"Que volte logo"
Diz a cama.
O vento sopra-me à tona.
Sigo à proa
Um lago de lama.
Piso, esmago minha gargalhada
Grito o alto canto da estrada.
João Miguel
Junho/08
Brisa a água gira
Espalham-se no chão do quarto
Ouço o ar que o som me trás, que cedo avisa:
Já morreu a melancolia.
"Já foi tarde"
O ar reclama.
"Que volte logo"
Diz a cama.
O vento sopra-me à tona.
Sigo à proa
Um lago de lama.
Piso, esmago minha gargalhada
Grito o alto canto da estrada.
João Miguel
Junho/08
domingo, junho 15, 2008
Poema de Nove Segundos
1º Segundo
Hoje comemoro a solidão de minha existência.
Não somente para saudar minha paz de momento que insisto em afirmar,
Mas cá sentado sobre o verde retorcido destas veredas em forma de arquipélago,
Sinto a cárie amarga que desatina sensualmente em deuses pardos de certeza.
2º Segundo
Os ecos de Rimbaud e harpas de cobre ácido, daqueles que escorrem e recobrem Mallarmé,
Brilham em meus pés de raizes que sugam o chão. Então O interior de minhas dimensões terrenas e arenosas vê. Dissimula o instante, a estante, o restante, a razão de Kant, o peso obliviante da vigília.
3º Segundo
Como a dor de uma agulha, e então, imensamente integrado, venho Eu cá sentar-me,
Sobre esta paisagem musga, além de quantativamente poética, Para assim berrar à brisa
Que sobre meu rosto plácido desliza.
4º Segundo
Como que neve flamejante em torturas de ópio e verrugas repletas de castas, É pleno como quando respirávamos os segundos do amor de Nefertite. O por da tarde de amor trancado e úmido em nossas palpebras, sob o nascer do sol carnívoro, Iluminado por uma espiral corrente e tênue que une minha alma ao ar da manhã, assim como esta amplidão de giz e cobertores
que, durante meio período, encobre todas as indulgências sobre as quais depositamos o que desejamos:
O primeiro segundo após a morte.
5º Segundo
Vomito esse desejo que arranha as paredes do meu fígado e rebentam em constelações de magníficas explosões dizimatórias. Estas arrancam vêias e corações dos astros suspensos diante de meus ombros, como se este cenário fosse a realidade digerida nas entranhas das cabras e rãs do entardecer.
6º Segundo
A árvore transversal está mais perto de minhas costas transparentes do que a Lua gigantesca de fermento e moléstias, comprimida ao centro.
Calado e sustentado por pulmões negros bufando névoas e uma pasta escura e apodrecida, de um vício cravado no centro de meu peito (assim como a Lua), como uma orquídea de diamante sustenta o solo.
7º Segundo
O solo. Enigmático. Ele agarra seu caule e suplica por mais uma dose de esperança.
A esperança daquelas negras pastilhas de anfetaminóides nanosintetizados projetados em rasas docas de abssinto com mercúrio e pitadas de trovão e contraceptivos.
8º Segundo
E vertigem? Ou seria fuligem? Tampouco derretem. Onde sera que está a origem?
9º Segundo
Hoje esmaguei meu corpo contra a parede com o dedo indicador e tudo, e nada também,
Diz a meus desdobramentos que meu momento de paz é a celebração da solidão de minha existência.
João Miguel
Hoje comemoro a solidão de minha existência.
Não somente para saudar minha paz de momento que insisto em afirmar,
Mas cá sentado sobre o verde retorcido destas veredas em forma de arquipélago,
Sinto a cárie amarga que desatina sensualmente em deuses pardos de certeza.
2º Segundo
Os ecos de Rimbaud e harpas de cobre ácido, daqueles que escorrem e recobrem Mallarmé,
Brilham em meus pés de raizes que sugam o chão. Então O interior de minhas dimensões terrenas e arenosas vê. Dissimula o instante, a estante, o restante, a razão de Kant, o peso obliviante da vigília.
3º Segundo
Como a dor de uma agulha, e então, imensamente integrado, venho Eu cá sentar-me,
Sobre esta paisagem musga, além de quantativamente poética, Para assim berrar à brisa
Que sobre meu rosto plácido desliza.
4º Segundo
Como que neve flamejante em torturas de ópio e verrugas repletas de castas, É pleno como quando respirávamos os segundos do amor de Nefertite. O por da tarde de amor trancado e úmido em nossas palpebras, sob o nascer do sol carnívoro, Iluminado por uma espiral corrente e tênue que une minha alma ao ar da manhã, assim como esta amplidão de giz e cobertores
que, durante meio período, encobre todas as indulgências sobre as quais depositamos o que desejamos:
O primeiro segundo após a morte.
5º Segundo
Vomito esse desejo que arranha as paredes do meu fígado e rebentam em constelações de magníficas explosões dizimatórias. Estas arrancam vêias e corações dos astros suspensos diante de meus ombros, como se este cenário fosse a realidade digerida nas entranhas das cabras e rãs do entardecer.
6º Segundo
A árvore transversal está mais perto de minhas costas transparentes do que a Lua gigantesca de fermento e moléstias, comprimida ao centro.
Calado e sustentado por pulmões negros bufando névoas e uma pasta escura e apodrecida, de um vício cravado no centro de meu peito (assim como a Lua), como uma orquídea de diamante sustenta o solo.
7º Segundo
O solo. Enigmático. Ele agarra seu caule e suplica por mais uma dose de esperança.
A esperança daquelas negras pastilhas de anfetaminóides nanosintetizados projetados em rasas docas de abssinto com mercúrio e pitadas de trovão e contraceptivos.
8º Segundo
E vertigem? Ou seria fuligem? Tampouco derretem. Onde sera que está a origem?
9º Segundo
Hoje esmaguei meu corpo contra a parede com o dedo indicador e tudo, e nada também,
Diz a meus desdobramentos que meu momento de paz é a celebração da solidão de minha existência.
João Miguel
segunda-feira, abril 14, 2008
Cor
Aquela tarde úmida e nascente soletrava meus passos de pensamento.
Cravei dois seixos em minha pele, naquelas nuvens de momento.
Giravam flores e saias frutíferas, como num imenso e novo carnaval.
Rodei mil vezes em meus sonos mornos, como quem espanta o mal.
Minha vila tinha céu azul e sol de espinhos flamejantes
Qualquer um que me visse caído em cama, não perturbariam-me o instante.
E qual dessas rosas sonho, senão aquela que me pariu o filho?
Penso que somente sopro minha vida, assim como dela faço meu caminho.
De minh`alma colhe o que já apodreceu nos galhos
Certo que não peço nada, nada além de seus frios calvários.
Logo a tenda de meus olhos abre-se numa nova paixão
Saciam sua sede com orvalho e cantam soltas na amplidão.
Não entendo essa gente que me duvida a longa palavra
Sempre têm que ultrapassar sua mente, como se fosse escrava?
Não lhes rogo mal infortúnios, nem lhes desejo sua ausência.
Breve de espanto e resguardado, sugo-lhes apenas a essência.
Tenho frios e pontiagudos dedos, que é para acalmar-me o pranto.
E quando, muita vez, me quedo externo de ser eu... Apenas canto.
Minha margem fulgura minha dormente dor de amante
Olha, pois, pega em tuas mãos depois, sofre logo a dor de adiante!
Cravei dois seixos em minha pele, naquelas nuvens de momento.
Giravam flores e saias frutíferas, como num imenso e novo carnaval.
Rodei mil vezes em meus sonos mornos, como quem espanta o mal.
Minha vila tinha céu azul e sol de espinhos flamejantes
Qualquer um que me visse caído em cama, não perturbariam-me o instante.
E qual dessas rosas sonho, senão aquela que me pariu o filho?
Penso que somente sopro minha vida, assim como dela faço meu caminho.
De minh`alma colhe o que já apodreceu nos galhos
Certo que não peço nada, nada além de seus frios calvários.
Logo a tenda de meus olhos abre-se numa nova paixão
Saciam sua sede com orvalho e cantam soltas na amplidão.
Não entendo essa gente que me duvida a longa palavra
Sempre têm que ultrapassar sua mente, como se fosse escrava?
Não lhes rogo mal infortúnios, nem lhes desejo sua ausência.
Breve de espanto e resguardado, sugo-lhes apenas a essência.
Tenho frios e pontiagudos dedos, que é para acalmar-me o pranto.
E quando, muita vez, me quedo externo de ser eu... Apenas canto.
Minha margem fulgura minha dormente dor de amante
Olha, pois, pega em tuas mãos depois, sofre logo a dor de adiante!
quarta-feira, março 26, 2008
Noite
As paredes do estandarte solitário e legionário
São cristalinas minas de pedra-corvo.
Refletem suor e o negrume dos figos estomacais
Em transeuntes acidos e mesquinhos.
Consomem gotas de ódio e álcool
Que entorpecem vis sentidos
Favos de plumas podres, petrificadas
Que dissolvem o sal de seus organismos.
Calotas emborrachadas
Sob o negro véu risonho
Flores do mal em alvos cabelos
Tudo é estante para meu tom de estanho.
Prosas são fim de mim, então trovas.
Libertas vertem berros, querem de perto ser remotas.
Amordaçadas.
Debruçadas em balões estéreis e tristes...
Eu choro, não suporto. Meu sabor apuro.
Água plena de fruto maduro é
Sangue seco de meu cais impuro.
Más revelações vem do fundo: imundo.
Mas esta lua amarela morta
Insiste em sua sequela à minha porta.
Transparente e profundo céu da noite
Onde nada mais importa.
São cristalinas minas de pedra-corvo.
Refletem suor e o negrume dos figos estomacais
Em transeuntes acidos e mesquinhos.
Consomem gotas de ódio e álcool
Que entorpecem vis sentidos
Favos de plumas podres, petrificadas
Que dissolvem o sal de seus organismos.
Calotas emborrachadas
Sob o negro véu risonho
Flores do mal em alvos cabelos
Tudo é estante para meu tom de estanho.
Prosas são fim de mim, então trovas.
Libertas vertem berros, querem de perto ser remotas.
Amordaçadas.
Debruçadas em balões estéreis e tristes...
Eu choro, não suporto. Meu sabor apuro.
Água plena de fruto maduro é
Sangue seco de meu cais impuro.
Más revelações vem do fundo: imundo.
Mas esta lua amarela morta
Insiste em sua sequela à minha porta.
Transparente e profundo céu da noite
Onde nada mais importa.
terça-feira, março 11, 2008
Um encontro
Na esquina da poesia
Encontrei a neve de teu sorriso
Saiba que sorri com tua melodia
Que surpresa, teus olhares agora recito.
Sorri contigo, e sem ti quando sozinho
Me encanta seres livre e novidade
Nego, cem vezes ou mais espinhos
Agora pouco me importa tua idade
Meu sonho, disse o arco de teu abraço
Mesmo era que tal noite vivida
Acordei salvo, e num encalço
Adormeci sob tua chama infinita
Por dentro, sob um vento cortante
O pálio negro esvaia-se clemente
Seu furor era razante. E este verso inocente
Marcou à brasa aquele riso instante:
Cálida manhã ardente.
Encontrei a neve de teu sorriso
Saiba que sorri com tua melodia
Que surpresa, teus olhares agora recito.
Sorri contigo, e sem ti quando sozinho
Me encanta seres livre e novidade
Nego, cem vezes ou mais espinhos
Agora pouco me importa tua idade
Meu sonho, disse o arco de teu abraço
Mesmo era que tal noite vivida
Acordei salvo, e num encalço
Adormeci sob tua chama infinita
Por dentro, sob um vento cortante
O pálio negro esvaia-se clemente
Seu furor era razante. E este verso inocente
Marcou à brasa aquele riso instante:
Cálida manhã ardente.
sábado, março 01, 2008
João e Maria
E João recordou:
- Lembro de meus tempos de juventude, sabes Maria. Me interesso profundamente em penetrar no passado e sair em busca de algum sopro de felicidade.
Maria complementou:
- Menina era eu quando pensava que viveria para ver os grandes ventos de alegria da alma. É de me cortar as esperanças pensar que a vida foi esperando, esperando, tocando em frente o tempo, arrastando seu corpo, e que bons tempos como aqueles morreram.
João mostrou os dentes bondosamente:
- Você continua linda para meus olhos. Para minha alma, sua beleza só aumentou.
Maria dá uma gargalhada fraca, porém divertida:
- E você continua o mesmo galanteador de sempre. Sábio domador de meus amores que tu és.
João pega a mão dela com as suas:
- Que seriam todos esses anos se minha vida, sozinha estivesse sem a tua, minha mulher.
Maria derrama uma lágrima:
- Vida como essa nunca poderá existir. Pois amo-te com o calor de minha própria vida. Estou velha, mas feliz.
João inspira:
- As vezes lamento não poder ser tão belo e esbelto, como tu costumava apreciar.
Maria:
- Ah João, em meu coração tua beleza juvenil sempre há de viver. Tua beleza é tua experiência. Acho-te belo, meu marido.
João ri baixinho e cora:
- Estou apenas logrando. Sou feliz ao teu lado, tú és o refúgio de toda minha alegria, tú és a dona de minhas felicidades passadas.
Maria fecha os olhos e encosta a cabeça no ombro dele:
- E agora?
João cala por alguns minutos, e se adianta:
- Sabes que a hora está cada vez mais próxima.
Maria franze a testa:
- As vezes penso que talvez não esteja pronta.
João:
- Bom, suponho que nunca ninguém ha de se estar.
Maria:
- Agora que o momento está perto, sinto-me um pouco amedrontada. Estamos velhos, João.
João olha em seus olhos:
- Também compartilho de tua dor. Mas não te procupes, estamos juntos. Temos um ao outro, como um cais do porto. Como sempre estivemos em vida.
Maria sorri, olha para o lado oposto, e retorna ao olhar de João:
- Amo-te com todo meu corpo, minha mente. Sabes que agora começo a notar-te integrado a mim, como uma extensão de mim mesma. Sinto-me unida a ti, como meus membros são unidos a meu tronco.
João beija a testa de Maria:
- Tua presença estará sempre aqui dentro. Agora e sempre, para além de meu tempo.
Maria:
- Sabes, sinto que minha hora se aproxima.
João:
- Então morreremos juntos, como uma única vida que se encerra.
E abraçaram-se eternamente.
- Lembro de meus tempos de juventude, sabes Maria. Me interesso profundamente em penetrar no passado e sair em busca de algum sopro de felicidade.
Maria complementou:
- Menina era eu quando pensava que viveria para ver os grandes ventos de alegria da alma. É de me cortar as esperanças pensar que a vida foi esperando, esperando, tocando em frente o tempo, arrastando seu corpo, e que bons tempos como aqueles morreram.
João mostrou os dentes bondosamente:
- Você continua linda para meus olhos. Para minha alma, sua beleza só aumentou.
Maria dá uma gargalhada fraca, porém divertida:
- E você continua o mesmo galanteador de sempre. Sábio domador de meus amores que tu és.
João pega a mão dela com as suas:
- Que seriam todos esses anos se minha vida, sozinha estivesse sem a tua, minha mulher.
Maria derrama uma lágrima:
- Vida como essa nunca poderá existir. Pois amo-te com o calor de minha própria vida. Estou velha, mas feliz.
João inspira:
- As vezes lamento não poder ser tão belo e esbelto, como tu costumava apreciar.
Maria:
- Ah João, em meu coração tua beleza juvenil sempre há de viver. Tua beleza é tua experiência. Acho-te belo, meu marido.
João ri baixinho e cora:
- Estou apenas logrando. Sou feliz ao teu lado, tú és o refúgio de toda minha alegria, tú és a dona de minhas felicidades passadas.
Maria fecha os olhos e encosta a cabeça no ombro dele:
- E agora?
João cala por alguns minutos, e se adianta:
- Sabes que a hora está cada vez mais próxima.
Maria franze a testa:
- As vezes penso que talvez não esteja pronta.
João:
- Bom, suponho que nunca ninguém ha de se estar.
Maria:
- Agora que o momento está perto, sinto-me um pouco amedrontada. Estamos velhos, João.
João olha em seus olhos:
- Também compartilho de tua dor. Mas não te procupes, estamos juntos. Temos um ao outro, como um cais do porto. Como sempre estivemos em vida.
Maria sorri, olha para o lado oposto, e retorna ao olhar de João:
- Amo-te com todo meu corpo, minha mente. Sabes que agora começo a notar-te integrado a mim, como uma extensão de mim mesma. Sinto-me unida a ti, como meus membros são unidos a meu tronco.
João beija a testa de Maria:
- Tua presença estará sempre aqui dentro. Agora e sempre, para além de meu tempo.
Maria:
- Sabes, sinto que minha hora se aproxima.
João:
- Então morreremos juntos, como uma única vida que se encerra.
E abraçaram-se eternamente.
terça-feira, fevereiro 26, 2008
Um dia pensei
Meu espírito ardente
Defronta-se com o espelho
De minh'alma
Que belamente, de repente
Reflete os dois lados
Da lente de meus olhos.
João Miguel
Defronta-se com o espelho
De minh'alma
Que belamente, de repente
Reflete os dois lados
Da lente de meus olhos.
João Miguel
Nascimento
"Meu coração, caçador de estrelas,
Foi preso numa cruz falena. Nasceu.
Manteve um olhar amedrontado
Sobre as paredes de meu peito.
Por causa de meu coração
Parti o gelo de minha terra natal.
Subi as montanhas de teus seios
E lá vislumbrei a fantasia dos mundos
Que moram do outro lado da janela de meus olhos.
Conheci então meu canto.
Disparei contra o vácuo, era tanto.
Minhas palavras eram fogo, não sei quanto.
Havia um cume ventoso naquelas nuvens.
Soube que ali poderia colorir meu coração-planeta.
Lá sopra um vento de realidade
Mas também uma fina brisa de revolta.
Revoltei-me contra todos os navios do mundo.
De repente, quando virei minhas costas,
Um ponto final encerrou em mim
Aquele rosto suave, e então
Nasci.
João Miguel
Foi preso numa cruz falena. Nasceu.
Manteve um olhar amedrontado
Sobre as paredes de meu peito.
Por causa de meu coração
Parti o gelo de minha terra natal.
Subi as montanhas de teus seios
E lá vislumbrei a fantasia dos mundos
Que moram do outro lado da janela de meus olhos.
Conheci então meu canto.
Disparei contra o vácuo, era tanto.
Minhas palavras eram fogo, não sei quanto.
Havia um cume ventoso naquelas nuvens.
Soube que ali poderia colorir meu coração-planeta.
Lá sopra um vento de realidade
Mas também uma fina brisa de revolta.
Revoltei-me contra todos os navios do mundo.
De repente, quando virei minhas costas,
Um ponto final encerrou em mim
Aquele rosto suave, e então
Nasci.
João Miguel
sábado, fevereiro 09, 2008
Será?
A nossa vida é um sonho e a
lembrança faz a real vida.
O sonho concretizado
Torna-se lembrança.
E a lembrança
torna-se
esque
cida.
lembrança faz a real vida.
O sonho concretizado
Torna-se lembrança.
E a lembrança
torna-se
esque
cida.
Poesia
O poeta devaneia.
Canta ele mesmo para o papel.
Canta seus vícios, suas prudências entorpes.
Mostra-lhe a parte que não
Cabe num simples corpo orgânico.
O que seria mais humano
Que guardar para si o peso de sua insignificância?
Vá. Mostre-a a todos.
Entregue seu amor para o papel
E livre-se do pesar de sua condição.
O homem é limitado,
O papel não.
João Miguel
Canta ele mesmo para o papel.
Canta seus vícios, suas prudências entorpes.
Mostra-lhe a parte que não
Cabe num simples corpo orgânico.
O que seria mais humano
Que guardar para si o peso de sua insignificância?
Vá. Mostre-a a todos.
Entregue seu amor para o papel
E livre-se do pesar de sua condição.
O homem é limitado,
O papel não.
João Miguel
quarta-feira, fevereiro 06, 2008
quinta-feira, janeiro 17, 2008
Poesia
Me pus a falar alto
Nas ruas, às portas asperas
As velhas canções de Havana.
Que diziam o como e quanto
Te olho nos olhos e
Aceito teu olhar. Cálido de desejo.
E assim sou e velejo
Minha raiva e mágoa
Além do deserto de
Teu canto, maior
Tão maior que a imensidão
Da terra e do teu céu, amplo céu.
Me quis aclamar alto
Pelas ruas turvas, pelas curvas
Minha terra de ferro, meu berro errante
Que de ti só deseja que alto, exageradamente alto
Cante!
Nas ruas, às portas asperas
As velhas canções de Havana.
Que diziam o como e quanto
Te olho nos olhos e
Aceito teu olhar. Cálido de desejo.
E assim sou e velejo
Minha raiva e mágoa
Além do deserto de
Teu canto, maior
Tão maior que a imensidão
Da terra e do teu céu, amplo céu.
Me quis aclamar alto
Pelas ruas turvas, pelas curvas
Minha terra de ferro, meu berro errante
Que de ti só deseja que alto, exageradamente alto
Cante!
sábado, janeiro 05, 2008
Poesia
Que diabo de poeta
seria eu se
não soubesse o que digo.
Poesia é arte inacabada e
provém da incompletude.
Com ela eu rio
sem parar. Rio afora
sem parar, Subo o rio.
Chego à margem, toco o
rio.
Agua e pedra e planta do rio.
Cortinas de ramos
tristes transpassam
brio. Da
canção são
encarregadas as
aves-do-paraíso.
Sigo adiante, posso
sentir a
ponta de
meus dedos
Tocando a
água pura. Que se dissolve
em ondas crescentes de
circulos.
Ora, que diabo de poeta
seria eu se
não soubesse o que digo.
Poesia cutuca, machuca, pinica a
alma.
Transa, transa, em transe, em tranças.
Alma, Sigo o rio.
Alma.
Ébrio vazio.
À tua
margem, encosto meu corpo em seu leito.
Faleço em sono desperto:
Minh'alma
segue em
teu peito.
João Miguel
seria eu se
não soubesse o que digo.
Poesia é arte inacabada e
provém da incompletude.
Com ela eu rio
sem parar. Rio afora
sem parar, Subo o rio.
Chego à margem, toco o
rio.
Agua e pedra e planta do rio.
Cortinas de ramos
tristes transpassam
brio. Da
canção são
encarregadas as
aves-do-paraíso.
Sigo adiante, posso
sentir a
ponta de
meus dedos
Tocando a
água pura. Que se dissolve
em ondas crescentes de
circulos.
Ora, que diabo de poeta
seria eu se
não soubesse o que digo.
Poesia cutuca, machuca, pinica a
alma.
Transa, transa, em transe, em tranças.
Alma, Sigo o rio.
Alma.
Ébrio vazio.
À tua
margem, encosto meu corpo em seu leito.
Faleço em sono desperto:
Minh'alma
segue em
teu peito.
João Miguel
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