E João recordou:
- Lembro de meus tempos de juventude, sabes Maria. Me interesso profundamente em penetrar no passado e sair em busca de algum sopro de felicidade.
Maria complementou:
- Menina era eu quando pensava que viveria para ver os grandes ventos de alegria da alma. É de me cortar as esperanças pensar que a vida foi esperando, esperando, tocando em frente o tempo, arrastando seu corpo, e que bons tempos como aqueles morreram.
João mostrou os dentes bondosamente:
- Você continua linda para meus olhos. Para minha alma, sua beleza só aumentou.
Maria dá uma gargalhada fraca, porém divertida:
- E você continua o mesmo galanteador de sempre. Sábio domador de meus amores que tu és.
João pega a mão dela com as suas:
- Que seriam todos esses anos se minha vida, sozinha estivesse sem a tua, minha mulher.
Maria derrama uma lágrima:
- Vida como essa nunca poderá existir. Pois amo-te com o calor de minha própria vida. Estou velha, mas feliz.
João inspira:
- As vezes lamento não poder ser tão belo e esbelto, como tu costumava apreciar.
Maria:
- Ah João, em meu coração tua beleza juvenil sempre há de viver. Tua beleza é tua experiência. Acho-te belo, meu marido.
João ri baixinho e cora:
- Estou apenas logrando. Sou feliz ao teu lado, tú és o refúgio de toda minha alegria, tú és a dona de minhas felicidades passadas.
Maria fecha os olhos e encosta a cabeça no ombro dele:
- E agora?
João cala por alguns minutos, e se adianta:
- Sabes que a hora está cada vez mais próxima.
Maria franze a testa:
- As vezes penso que talvez não esteja pronta.
João:
- Bom, suponho que nunca ninguém ha de se estar.
Maria:
- Agora que o momento está perto, sinto-me um pouco amedrontada. Estamos velhos, João.
João olha em seus olhos:
- Também compartilho de tua dor. Mas não te procupes, estamos juntos. Temos um ao outro, como um cais do porto. Como sempre estivemos em vida.
Maria sorri, olha para o lado oposto, e retorna ao olhar de João:
- Amo-te com todo meu corpo, minha mente. Sabes que agora começo a notar-te integrado a mim, como uma extensão de mim mesma. Sinto-me unida a ti, como meus membros são unidos a meu tronco.
João beija a testa de Maria:
- Tua presença estará sempre aqui dentro. Agora e sempre, para além de meu tempo.
Maria:
- Sabes, sinto que minha hora se aproxima.
João:
- Então morreremos juntos, como uma única vida que se encerra.
E abraçaram-se eternamente.
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Um comentário:
Cara... Esse texto me tocou lá no fundo...
Por um lado eu fico triste de pensar que não são muitas as vidas - ou casais - que terminam como João e Maria. Por outro, ainda tenho alguma esperança de que isso possa acontecer com todos nós.
Maravilhoso esse texto, Juaum. Abração pra você!
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