domingo, junho 15, 2008

Poema de Nove Segundos

1º Segundo

Hoje comemoro a solidão de minha existência.
Não somente para saudar minha paz de momento que insisto em afirmar,
Mas cá sentado sobre o verde retorcido destas veredas em forma de arquipélago,
Sinto a cárie amarga que desatina sensualmente em deuses pardos de certeza.

2º Segundo

Os ecos de Rimbaud e harpas de cobre ácido, daqueles que escorrem e recobrem Mallarmé,
Brilham em meus pés de raizes que sugam o chão. Então O interior de minhas dimensões terrenas e arenosas vê. Dissimula o instante, a estante, o restante, a razão de Kant, o peso obliviante da vigília.

3º Segundo

Como a dor de uma agulha, e então, imensamente integrado, venho Eu cá sentar-me,
Sobre esta paisagem musga, além de quantativamente poética, Para assim berrar à brisa
Que sobre meu rosto plácido desliza.

4º Segundo

Como que neve flamejante em torturas de ópio e verrugas repletas de castas, É pleno como quando respirávamos os segundos do amor de Nefertite. O por da tarde de amor trancado e úmido em nossas palpebras, sob o nascer do sol carnívoro, Iluminado por uma espiral corrente e tênue que une minha alma ao ar da manhã, assim como esta amplidão de giz e cobertores
que, durante meio período, encobre todas as indulgências sobre as quais depositamos o que desejamos:
O primeiro segundo após a morte.

5º Segundo

Vomito esse desejo que arranha as paredes do meu fígado e rebentam em constelações de magníficas explosões dizimatórias. Estas arrancam vêias e corações dos astros suspensos diante de meus ombros, como se este cenário fosse a realidade digerida nas entranhas das cabras e rãs do entardecer.

6º Segundo

A árvore transversal está mais perto de minhas costas transparentes do que a Lua gigantesca de fermento e moléstias, comprimida ao centro.
Calado e sustentado por pulmões negros bufando névoas e uma pasta escura e apodrecida, de um vício cravado no centro de meu peito (assim como a Lua), como uma orquídea de diamante sustenta o solo.

7º Segundo

O solo. Enigmático. Ele agarra seu caule e suplica por mais uma dose de esperança.
A esperança daquelas negras pastilhas de anfetaminóides nanosintetizados projetados em rasas docas de abssinto com mercúrio e pitadas de trovão e contraceptivos.

8º Segundo

E vertigem? Ou seria fuligem? Tampouco derretem. Onde sera que está a origem?

9º Segundo

Hoje esmaguei meu corpo contra a parede com o dedo indicador e tudo, e nada também,
Diz a meus desdobramentos que meu momento de paz é a celebração da solidão de minha existência.


João Miguel

Um comentário:

Anônimo disse...

Juaum... Véi!! Me ensina a escrever, véi! Caralha!!
Abração!!