No auge do emprego de cordeis encouraçados
Nobres almas pedem arrego à coroneis alados.
Houve ventos de solários e de saunas pesticidas
Quando rindo lá no alto dos trovões, disse a Midas
Pequeno ser, és tu coagulos em tua própria razão.
Ouso nesta vida apenas deter-me em mãos, minhas.
Ele então caiu num poro de júbilo, cresceu seu crânio,
Murmurou seu arranho de tijolos isolados em caldeirões,
Riu do escárnio mal engolido, nas bocas burguesas
Das cédulas de vontade na qual giramos nossas mesas.
Vermes e moinhos puderam apreciar por audição
A voz de ferro disparando berro como um canhão
Maldição! Maldição! Na certa me julgarão tresloucado
Mas essas palavras têm intenção. Por certo que muita vez
Não as desejo em meu terno, tampouco em teu coração.
És o anjo mandado do inferno, para opor-me a consolação.´
Por vezes sinto falta do que receio nunca mais retornar ser
Uma pinça de aurora em flamas que chora a ácida solidão de ser.
Até mesmo a luz dos astros incandescentes da amplidão
Estremeceram ao presenciar o ruido da voz de João,
Que algozes musicais perplexados estabeleciam-se
Sobre os tronos de ouro sagrado de Melquíades.
Hoje inverto as linguas, subjulgo os idiomas, verto ínguas
Em espaçadas matronas. Colho água sobre a espada.
Tranco muros em calabouços obscuros, donos de imensas caudas.
De que adianta o proferir. De que adianta o esquecimento.
De que adianta não ir e continuar sedento.
De que adianta não ir e continuar sedento.
De que adianta não ir e continuar sedento.
De não continuar sedento,
adianta ir e
não ir sedento
De continuar
e
não
adianta ir e
continuar sedento.
sábado, junho 28, 2008
segunda-feira, junho 23, 2008
Um momento sob o céu estrelado
"Olha os olhos de cristal!"
Aqueles olhinhos diziam:
"São olhos de cristal. Lindos!"
"Olhos de água", eu expliquei.
Era tão pequeno e estava fascinado, criança que era.
"Pegue para mim um deles", pediu.
Não quis negar.
Estendi o braço para a imensidão
E com a ponta de meus dedos
Apanhei um deles, cintilava.
Nossos pés estavam mornos próximos às chamas.
"Tente você também"
"Está bem"
Seus pequeninos dedos então apertavam
O cristal cintilante de água luminescente.
"Repare"
O rompimento do cristal fez escorrer
Sua água pura
Bem no meio de sua testa,
Nariz abaixo.
Então ele adormeceu.
Eu protegia-o.
João Miguel
Junho/08
Aqueles olhinhos diziam:
"São olhos de cristal. Lindos!"
"Olhos de água", eu expliquei.
Era tão pequeno e estava fascinado, criança que era.
"Pegue para mim um deles", pediu.
Não quis negar.
Estendi o braço para a imensidão
E com a ponta de meus dedos
Apanhei um deles, cintilava.
Nossos pés estavam mornos próximos às chamas.
"Tente você também"
"Está bem"
Seus pequeninos dedos então apertavam
O cristal cintilante de água luminescente.
"Repare"
O rompimento do cristal fez escorrer
Sua água pura
Bem no meio de sua testa,
Nariz abaixo.
Então ele adormeceu.
Eu protegia-o.
João Miguel
Junho/08
Ainda bem que não sou um espelho
Afinal, não há final.
Dizem que sou um quadro virado contra a parede,
Antes fosse eu um espelho.
Meus rins sem cor sobem talvez
Até a nuca de Rimbaud,
Ou algum outro devaneio qualquer
Diriam que é Flaubert.
Outros (que horror!), diriam Rosseau.
Para eles sou um quadro virado contra a parede,
Mas isso não importa a eles, são gente.
Eu aqui tenho o parque de diversões do espírito,
A esbórnia da alma em profanação de sentidos,
Que berra em todos os canais auditivos,
Afinal, não há final.
Dizem que sou um quadro virado contra a parede,
Antes fosse eu um espelho.
Meus rins sem cor sobem talvez
Até a nuca de Rimbaud,
Ou algum outro devaneio qualquer
Diriam que é Flaubert.
Outros (que horror!), diriam Rosseau.
Para eles sou um quadro virado contra a parede,
Mas isso não importa a eles, são gente.
Eu aqui tenho o parque de diversões do espírito,
A esbórnia da alma em profanação de sentidos,
Que berra em todos os canais auditivos,
Afinal, não há final.
Agrura
O amargo
Amargo.
Amargo.
O aspargo amargo.
O amargo do universo.
O aspargo do universo.
Universo amargo.
Largo amargo:
Largo universo.
Aspargo.
"O amargo largo do universo,
largo aspargo".
Aspargo amargo.
Largo aspargo do universo.
João Miguel
Junho/08
Amargo.
Amargo.
O aspargo amargo.
O amargo do universo.
O aspargo do universo.
Universo amargo.
Largo amargo:
Largo universo.
Aspargo.
"O amargo largo do universo,
largo aspargo".
Aspargo amargo.
Largo aspargo do universo.
João Miguel
Junho/08
Um dia acordei do avesso
Um belo dia acordei do avesso.
Meus olhos possuiam um brilho claro
E quando despertei, todos eles mergulharam num profundo breu.
Os sons da janela semi-aberta, a cortina aquecida pelo sol negro
E a eterna penumbra do meu quarto
Açoitaram meu coração e sentidos.
Ao cair de cara no chão cai de costas em flajelos de ferrões.
Mas o que é a dor quando não se enxerga a chaga?
De fato não me incomodavam os lampejos prateados
De meus sonhos falecidos.
Naquela escuridão, os clarões atingiam meu rosto como uma chuva de nuvens.
Quantas vezes, quantas frases longas que loucura nem delírio alcançam.
Podemos nós, quando tudo e nada fundem-se num profundo galho de brisa,
Podemos acordar como se tivessemos enfiado a cabeça no antônimo lado das coisas?
Frases longas.
Melhor encarar os fatos.
Um banho frio me faria bem.
João Miguel
Junho/08
Meus olhos possuiam um brilho claro
E quando despertei, todos eles mergulharam num profundo breu.
Os sons da janela semi-aberta, a cortina aquecida pelo sol negro
E a eterna penumbra do meu quarto
Açoitaram meu coração e sentidos.
Ao cair de cara no chão cai de costas em flajelos de ferrões.
Mas o que é a dor quando não se enxerga a chaga?
De fato não me incomodavam os lampejos prateados
De meus sonhos falecidos.
Naquela escuridão, os clarões atingiam meu rosto como uma chuva de nuvens.
Quantas vezes, quantas frases longas que loucura nem delírio alcançam.
Podemos nós, quando tudo e nada fundem-se num profundo galho de brisa,
Podemos acordar como se tivessemos enfiado a cabeça no antônimo lado das coisas?
Frases longas.
Melhor encarar os fatos.
Um banho frio me faria bem.
João Miguel
Junho/08
Navegação
Sinto o barco
Brisa a água gira
Espalham-se no chão do quarto
Ouço o ar que o som me trás, que cedo avisa:
Já morreu a melancolia.
"Já foi tarde"
O ar reclama.
"Que volte logo"
Diz a cama.
O vento sopra-me à tona.
Sigo à proa
Um lago de lama.
Piso, esmago minha gargalhada
Grito o alto canto da estrada.
João Miguel
Junho/08
Brisa a água gira
Espalham-se no chão do quarto
Ouço o ar que o som me trás, que cedo avisa:
Já morreu a melancolia.
"Já foi tarde"
O ar reclama.
"Que volte logo"
Diz a cama.
O vento sopra-me à tona.
Sigo à proa
Um lago de lama.
Piso, esmago minha gargalhada
Grito o alto canto da estrada.
João Miguel
Junho/08
domingo, junho 15, 2008
Poema de Nove Segundos
1º Segundo
Hoje comemoro a solidão de minha existência.
Não somente para saudar minha paz de momento que insisto em afirmar,
Mas cá sentado sobre o verde retorcido destas veredas em forma de arquipélago,
Sinto a cárie amarga que desatina sensualmente em deuses pardos de certeza.
2º Segundo
Os ecos de Rimbaud e harpas de cobre ácido, daqueles que escorrem e recobrem Mallarmé,
Brilham em meus pés de raizes que sugam o chão. Então O interior de minhas dimensões terrenas e arenosas vê. Dissimula o instante, a estante, o restante, a razão de Kant, o peso obliviante da vigília.
3º Segundo
Como a dor de uma agulha, e então, imensamente integrado, venho Eu cá sentar-me,
Sobre esta paisagem musga, além de quantativamente poética, Para assim berrar à brisa
Que sobre meu rosto plácido desliza.
4º Segundo
Como que neve flamejante em torturas de ópio e verrugas repletas de castas, É pleno como quando respirávamos os segundos do amor de Nefertite. O por da tarde de amor trancado e úmido em nossas palpebras, sob o nascer do sol carnívoro, Iluminado por uma espiral corrente e tênue que une minha alma ao ar da manhã, assim como esta amplidão de giz e cobertores
que, durante meio período, encobre todas as indulgências sobre as quais depositamos o que desejamos:
O primeiro segundo após a morte.
5º Segundo
Vomito esse desejo que arranha as paredes do meu fígado e rebentam em constelações de magníficas explosões dizimatórias. Estas arrancam vêias e corações dos astros suspensos diante de meus ombros, como se este cenário fosse a realidade digerida nas entranhas das cabras e rãs do entardecer.
6º Segundo
A árvore transversal está mais perto de minhas costas transparentes do que a Lua gigantesca de fermento e moléstias, comprimida ao centro.
Calado e sustentado por pulmões negros bufando névoas e uma pasta escura e apodrecida, de um vício cravado no centro de meu peito (assim como a Lua), como uma orquídea de diamante sustenta o solo.
7º Segundo
O solo. Enigmático. Ele agarra seu caule e suplica por mais uma dose de esperança.
A esperança daquelas negras pastilhas de anfetaminóides nanosintetizados projetados em rasas docas de abssinto com mercúrio e pitadas de trovão e contraceptivos.
8º Segundo
E vertigem? Ou seria fuligem? Tampouco derretem. Onde sera que está a origem?
9º Segundo
Hoje esmaguei meu corpo contra a parede com o dedo indicador e tudo, e nada também,
Diz a meus desdobramentos que meu momento de paz é a celebração da solidão de minha existência.
João Miguel
Hoje comemoro a solidão de minha existência.
Não somente para saudar minha paz de momento que insisto em afirmar,
Mas cá sentado sobre o verde retorcido destas veredas em forma de arquipélago,
Sinto a cárie amarga que desatina sensualmente em deuses pardos de certeza.
2º Segundo
Os ecos de Rimbaud e harpas de cobre ácido, daqueles que escorrem e recobrem Mallarmé,
Brilham em meus pés de raizes que sugam o chão. Então O interior de minhas dimensões terrenas e arenosas vê. Dissimula o instante, a estante, o restante, a razão de Kant, o peso obliviante da vigília.
3º Segundo
Como a dor de uma agulha, e então, imensamente integrado, venho Eu cá sentar-me,
Sobre esta paisagem musga, além de quantativamente poética, Para assim berrar à brisa
Que sobre meu rosto plácido desliza.
4º Segundo
Como que neve flamejante em torturas de ópio e verrugas repletas de castas, É pleno como quando respirávamos os segundos do amor de Nefertite. O por da tarde de amor trancado e úmido em nossas palpebras, sob o nascer do sol carnívoro, Iluminado por uma espiral corrente e tênue que une minha alma ao ar da manhã, assim como esta amplidão de giz e cobertores
que, durante meio período, encobre todas as indulgências sobre as quais depositamos o que desejamos:
O primeiro segundo após a morte.
5º Segundo
Vomito esse desejo que arranha as paredes do meu fígado e rebentam em constelações de magníficas explosões dizimatórias. Estas arrancam vêias e corações dos astros suspensos diante de meus ombros, como se este cenário fosse a realidade digerida nas entranhas das cabras e rãs do entardecer.
6º Segundo
A árvore transversal está mais perto de minhas costas transparentes do que a Lua gigantesca de fermento e moléstias, comprimida ao centro.
Calado e sustentado por pulmões negros bufando névoas e uma pasta escura e apodrecida, de um vício cravado no centro de meu peito (assim como a Lua), como uma orquídea de diamante sustenta o solo.
7º Segundo
O solo. Enigmático. Ele agarra seu caule e suplica por mais uma dose de esperança.
A esperança daquelas negras pastilhas de anfetaminóides nanosintetizados projetados em rasas docas de abssinto com mercúrio e pitadas de trovão e contraceptivos.
8º Segundo
E vertigem? Ou seria fuligem? Tampouco derretem. Onde sera que está a origem?
9º Segundo
Hoje esmaguei meu corpo contra a parede com o dedo indicador e tudo, e nada também,
Diz a meus desdobramentos que meu momento de paz é a celebração da solidão de minha existência.
João Miguel
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